Mudanças ao longo do trajeto entre Tabaí e Santa Maria são visíveis e usuários aguardam pela esperada duplicação
A concessão da RS-287, primeira rodovia repassada à iniciativa privada na gestão de Eduardo Leite, completa em fevereiro os primeiros sete meses dos seus 30 anos de administração pelo grupo espanhol Sacyr. As mudanças na pista ao longo do trajeto entre Tabaí e Santa Maria já são visíveis, mas ainda muito iniciais.
Alvo de críticas dos motoristas por décadas, especialmente pela má qualidade do asfalto, do acostamento precário e da falta de duplicação, o trecho é responsável por ligar as regiões Central e Metropolitana. É rota fundamental tanto para quem cruza o Rio Grande do Sul de leste a oeste, quanto para o escoamento de produção.
Para registrar o que vem sendo feito na rodovia nesses primeiros meses, a reportagem de GZH percorreu os 204 quilômetros do trecho concedido, partindo de Porto Alegre até Santa Maria e, depois, fazendo o trajeto inverso. A situação encontrada vai de encontro aos relatos dos usuários.
Diretor-geral da concessionária Rota de Santa Maria, Renato Bortoletti reconhece que os resultados mais aguardados pelos motoristas ainda demoram para deslanchar em razão do pouco tempo de operação, considerando tudo o que prevê o contrato. Mas sinaliza intenção da concessionária de antecipar melhorias conforme o caixa e o calendário permitam.
Desde que “pegou as chaves” da rodovia, o grupo vem trabalhando em duas frentes: uma focada nos pedágios, com a construção de novas praças e a ampliação das já existentes, e em reparos pontuais de recuperação do asfalto onde a situação é considerada mais crítica.
Nas praças já pedagiadas, em Venâncio Aires (km 86) e Candelária (km 131), a ampliação prevê mais cabines de cobrança para comportar o fluxo. O preço da tarifa, atualmente, é de R$ 3,70. O valor passou por reajuste no ano passado – antes da concessão, custava R$ 7. Em janeiro, 620 mil veículos cruzaram as cancelas das duas praças. Venâncio Aires, que concentra o maior movimento, registrou 365 mil usuários naquele mês.
Outros três pedágios se encaminham para sair do papel: Taquari (km 47), Paraíso do Sul (km 168) e Santa Maria (km 220). Nos dois primeiros, as obras são visíveis nos dois lados da rodovia pela execução dos serviços de terraplenagem e de drenagem do terreno. Em Santa Maria, as obras ainda não começaram, apenas os serviços de poda e limpeza.
A previsão é de que as novas praças estejam prontas entre julho e agosto deste ano, com início da cobrança em setembro, conforme determina o contrato. Todas as praças terão faixas exclusivas para passagem automática, com pagamento prévio via tag, para reduzir as filas.
Pelo menos outros dois trechos da estrada estão com máquinas e funcionários trabalhando na pista, dessa vez para reparos emergenciais. Inicialmente, conforme explica Bortoletti, as intervenções estavam previstas para serem executadas partindo de Santa Maria, com o objetivo de estancar problemas em um dos trechos considerados mais críticos, entre o município e a Quarta Colônia. A constante queixa dos usuários em relação à qualidade da estrada, porém, fez com que a concessionária antecipasse reparos também na outra ponta da RS-287, partindo de Tabaí.
Nesses dois pontos, estão sendo retiradas as camadas asfálticas mais deterioradas para a colocação de material novo, em processo conhecido como fresagem. A operação exige que o trânsito seja realizado em pista única, com interrupção do fluxo em uma das vias durante alguns minutos. O tráfego parcelado exige ainda mais atenção e paciência dos motoristas.
Pontos onde há trabalhos na rodovia:
Raio X do que a reportagem da GZH viu
- km 38, passando o acesso de entrada a Taquari: trânsito em meia pista para reparos de fresagem no asfalto. Parada de cerca de 15 minutos
- km 47: máquinas e trabalhadores dos dois lados da pista para construção do pedágio de Taquari. Terraplenagem e drenagem da área onde serão construídas as cabines e as pistas
- Entre Taquari e Venâncio Aires: estrada em pior estado, com asfalto danificado, pintura falha e trânsito intenso de carros e caminhões
- km 86, pedágio de Venâncio Aires: fluxo intenso nas seis cabines, mas sem filas. Posto será ampliado
- Entre Venâncio Aires e Santa Cruz: trecho com terceira pista e asfalto em melhor condição. Na chegada a Santa Cruz, duplicado dos dois lados e sinalizado. Ondulações no asfalto em alguns trechos.
- km 129, entre Vale do Sol e o pedágio de Candelária: asfalto deteriorado, com mais buraco e ondulações.
- km 131, pedágio de Candelária: máquinas para obras de ampliação. Seis cabines, uma de cobrança automática, e sem filas.
- km 168, obras do pedágio em Paraíso do Sul: trabalhadores e máquinas fazendo terraplanagem e drenagem para alargamento da pista. Cabines ficarão no meio da rodovia. No lado direito da faixa, sentido SM-POA, será erguido prédio administrativo.
- De Paraíso do Sul a Santa Maria: asfalto e acostamento melhoram. Trechos com buracos entre Paraíso e Agudo.
- km 194, localidade de Vila Rosa, entre Agudo e Santa Maria: trabalhos de fresagem do asfalto. Trânsito em meia pista com paradas de 10 a 15 minutos.
- Km 220, pedágio de Santa Maria: trecho bastante irregular. Trabalhos não foram iniciados ainda, apenas limpeza de vegetação.
Antecipação da duplicação
O contrato de concessão da estrada prevê que todo o trecho compreendido entre Tabaí e Santa Maria seja duplicado ao longo dos próximos 30 anos, iniciando a partir do segundo ano. Como o contrato prevê que as obras comecem pelos trechos urbanos, determinou-se que a duplicação seja iniciada partindo de Tabaí rumo a Santa Cruz do Sul – empreitada que deve ser concluída até o quinto ano de concessão. Até o nono ano, 65% da rodovia deve estar duplicada.
– Todos os trechos urbanos são colocados numa primeira etapa e depois os trechos rurais. É um reflexo do tráfego real da rodovia. Em veículo absoluto (entre carros e caminhões), 44% mais passam em Venâncio Aires do que em Candelária. E a realidade para lá é similar, salvo no trecho da Quarta Colônia até Santa Maria, onde o tráfego é mais intenso. Tabaí, no final das contas, é o que conecta tudo com a BR-386, que vai para Porto Alegre e para qualquer outra região. Acaba que é o final do funil – explica o diretor-presidente Renato Bortoletti.
A decisão sobre o sentido da obra é contestada nas demais regiões atendidas pela rodovia. A pressa pela duplicação se traduz em movimentos pela antecipação dos trabalhos. O pedido dos prefeitos é de que a construção se inicie simultaneamente pelos dois sentidos.
Conforme o presidente da Associação dos Municípios da Região Central do Estado e prefeito de São João do Polêsine, Matione Sonego, a reivindicação foi encaminhada ao Estado e à concessionária e vem sendo discutida pelas partes.
– Sugerimos que começasse em duas frentes pela importância da região e pelo fluxo de veículos. É muito oneroso para os usuários pagarem por 20 anos até ter o benefício – avalia Sonego.
O secretário de Parcerias do Estado, Leonardo Busatto, explica que o contrato é flexível e permite alterações. Mas que a mudança depende de debate na sociedade, já que qualquer alteração implicaria em reajuste de tarifa nos pedágios e de validação da Agergs. Um novo estudo de fluxo, de cronograma e de impacto tarifário foi encaminhado à concessionária.
– Essa é a pergunta que vamos ter que fazer: a sociedade quer pagar mais pedágio para antecipar um investimento de duplicação? – questiona Busatto.
A administração da Rota de Santa Maria diz que já estuda uma antecipação das obras.
– A concessionária já apresentou no seu plano de negócio trabalhar do trecho de Tabaí até próximo de Paraíso, se tudo for feito até o quinto ano de concessão. E o trecho de Paraíso até Santa Maria, que seria feito no ano 20, estamos imaginando fazer entre o sexto e o sétimo ano como uma continuidade da obra. Seria uma antecipação de 14 anos – acrescenta Bortoletti.
Localização de praça gera debate
Inicialmente prevista para o km 214, a praça de pedágio de Santa Maria, localizada no Distrito de Palma, teve sua instalação alterada para o km 220 da rodovia. A mudança foi contestada por moradores da região, especialmente por, agora, o pedágio ficar nas proximidades de uma escola.
Os vizinhos do futuro pedágio participaram de uma série de reuniões com o poder público, mas a comissão se retirou da negociação porque não se chegou a um acordo. Possivelmente, o próximo passo será na Justiça. O grupo vai pleitear que outros pedidos sejam atendidos, como construção de vias marginais para que os produtores rurais não sejam prejudicados.
A concessionária já possui a desapropriação de terreno onde passará a rota e a licença ambiental.
Silvia Pozzobon, moradora de propriedade que fica a um quilômetro de onde será erguida a praça, alega que o projeto precisa levar em conta os moradores e a atividade econômica do local.
– Toda a colocação do pedágio tem implicação na vida da agricultura que percorre a rodovia. O Estado só pensou em unir pontos urbanos e esqueceu completamente dos produtores rurais que estão ao longo da rodovia – reclama Silvia.
Segundo a concessionária, a mudança ocorreu para reduzir os impactos, já que no km 214 o número de acessos a serem construídos teria de ser maior. Quando há implantação de pedágio, é preciso construir acessos um quilômetro antes e um quilômetro depois da praça, conduzidos por vias laterais.
– No km 214, tínhamos uma série de acessos a indústrias e famílias, teríamos que fazer tratativas de desapropriação com três proprietários. No km 220, há um único proprietário que é dono do terreno todo, rural, onde a tratativa é muito mais simples. O nível de impacto no dia a dia da população é muito menor – defende Bortoletti.
Fonte: GZH