Montadoras miram 2023 com investimentos de R$ 20,9 bilhões

Expectativa é retomar patamar de vendas de 3 milhões de unidades até 2030

As montadoras instaladas no Brasil já estão em 2023. Investimentos anunciados nos últimos três meses somam R$ 20,9 bilhões e mostram que a indústria enxerga a retomada para além de um início de ano turbulento.

O aporte de maior vulto foi anunciado em janeiro pela chinesa Great Wall (R$ 10 bilhões), que vai produzir carros híbridos e elétricos em Iracemápolis (interior de São Paulo), na fábrica que pertenceu à Mercedes-Benz.

Causa espanto ouvir o setor automotivo falar de cifras altas em um ano de eleições majoritárias, quando empresas costumam pisar no freio diante do cenário de incerteza, mas essa indústria tem seus próprios ciclos e interesses.

“A Great Wall está fazendo um investimento de longo prazo e adquiriu uma fábrica já instalada. Vieram aqui e compraram em uma época de baixa, com o real bastante desvalorizado”, diz Cassio Pagliarini, sócio da consultoria Bright.

“Os chineses estão olhando para o futuro, e compensa fazer esse investimento. Se querem crescer globalmente, precisam do volume do Brasil, que não vai ficar sempre nesses 2 milhões [de unidades vendidas].”

O especialista acredita que o mercado interno vai voltar ao patamar de 3 milhões de unidades até 2030, e quem investe agora tem essa visão de longo prazo.

Mas se o retrato de momento fosse parâmetro para definir investimentos, talvez faltasse coragem às empresas. Segundo a Anfavea (associação das montadoras), a produção de veículos leves e pesados em janeiro teve queda de 27,4% em relação ao mesmo mês de 2021. O resultado foi influenciado pelos efeitos da variante ômicron nas linhas de montagem e por férias coletivas.

A entidade acredita que o PIB (Produto Interno Bruto) terá um crescimento de 0,5% em 2022 e projeta um crescimento de 9,4% na fabricação, com 2,46 milhões de unidades saindo das linhas de montagem. Como as montadoras dividem o mundo em macrorregiões, a visão de retomada não se limita ao Brasil.

Reiner Braun, presidente do grupo BMW na América Latina, vê um crescimento de 2,5% do PIB na América Latina. A marca vive um bom momento global, tendo registrado um crescimento de 98,4% nas vendas entre 2020 e 2021.

Em novembro, a montadora alemã anunciou um novo investimento na fábrica de Araquari (SC). Serão aplicados R$ 500 milhões entre 2022 e 2024 para produção dos utilitários X3 e X4, além de um modelo que ainda será revelado na Alemanha. A marca já investiu R$ 1,8 bilhão na produção local desde 2014.

A concorrente Audi também se movimenta. Após permanecer parada ao longo de 2021, a montadora alemã vai reiniciar a produção de veículos em São José dos Pinhais (PR).

A retomada está prevista para o início do segundo semestre de 2022, com a montagem dos modelos Q3 e Q3 Sportback. Os valores investidos ainda não foram revelados, mas a empresa divulgou que vai gastar R$ 20 milhões na instalação de pontos de recarga para carros elétricos em suas concessionárias.

Pesados

No segmento de veículos pesados, os investimentos são facilmente explicáveis. O setor vive um bom momento devido aos resultados do agronegócio e da mineração, além da demanda por serviços de entrega.

Volvo, Iveco e DAF fizeram anúncios recentes, que somam aproximadamente R$ 3 bilhões em aportes.

As fabricantes também se movimentam para atender à próxima etapa do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares) para veículos pesados, que entra em vigor no próximo ano.

Outro ponto que vai estimular investimentos é o programa Finame Baixo Carbono, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A linha de crédito facilita a compra de veículos e maquinário movidos a eletricidade, a pilha de hidrogênio ou a biocombustível, como gás natural e etanol. Ao gerar o aumento da demanda por esses produtos, as montadoras terão de encontrar caminhos para nacionalizar carros menos poluentes.

Fonte: Folha de S Paulo

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