Entidades de transporte de cargas falam em “colapso do setor” sem repasse imediato para os fretes do aumento nos combustíveis

Elevação do preço do diesel encarece em cerca de R$ 400 o custo de cada abastecimento dos caminhões

O anúncio, mas, sobretudo, o tamanho do reajuste praticado pela Petrobras, nesta quinta-feira (10), no valor dos combustíveis comercializados às refinarias (18,77% na gasolina e 24,93% no diesel) soou como uma bomba aos ouvidos das principais entidades gaúchas ligadas aos transportes de cargas. Após o estrondo, a primeira reação das lideranças setoriais é a de tentar garantir o repasse imediato dos novos custos para o valor dos fretes, a fim de evitar o que, por eles, é apontado como um possível “colapso do setor” a partir da próxima semana.  

Para se ter uma ideia, em média, os caminhões que circulam pelas estradas do país, têm de 300 a 500 litros de combustível, a maioria utiliza dois tanques com 450 litros cada. Considerando que o aumento no diesel será de R$ 0,90, ou seja, quase R$ 1 por litro, nos postos, a diferença ficará em torno de R$ 400 a mais por cada tanque abastecido. 

–  O sistema de transportes pode entrar em colapso na já próxima semana, porque, se não houver entendimento dos embarcadores de que esse reajuste de tarifas de frete precisa ser feito de maneira imediata, os transportadores não terão como financiar o aumento do diesel neste momento – declara o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística no RS (Setcergs) Diego Tomasi.  

A justificativa é de que, diferentemente, de outras ocasiões em que foram verificados vários aumentos de menor proporção, agora, o volume assusta. Isso acontece, explica, porque em elevações escalonadas há certa margem para que os custos sejam absorvidos.  

– Já se esperava o aumento em razão da oscilação no valor do barril de petróleo no mercado internacional, mas o percentual repassado foi surpreendente. O anúncio é feito hoje e a mudança já passa a vigorar no dia seguinte. Não há prazo para negociar e as empresas de transportes simplesmente precisam absorver o valor para começar o repasse depois. Por isso, nas outras oportunidades havia margem, mas, neste caso, vai ter que ser de imediato para evitar um colapso – reforça.  

Com a mesma linha de raciocínio, Afrânio Kieling, presidente do sistema Fetransul (Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no RS) participa de reunião coordenada pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC), em Brasília, com as 12 federações do país, em busca de soluções. Outra vez, “repasse” é a palavra de ordem.  

De acordo com o dirigente, que representa 20 mil transportadoras gaúchas, com frota estimada em 280 mil caminhões, o impacto é “estarrecedor”. Ele lembra que existem vários modais, mas, no Estado, 68% das cargas passam pelas rodovias e o valor do diesel afeta de maneira generalizada todas as cadeias de produção:  

– Teremos uma série de reuniões nacionais para tentar entender o que será feito, mas não há alternativas que não envolvam o repasse. E já. Há uma série de questões, mas as consequências, nesse momento, são imediatas e a preocupação é geral no setor e também com a inflação.

Em nota, o presidente da Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do RS (Fetergs), também afirma que, diante dos percentuais, o clima é de “preocupação” com a possibilidade de “desequilíbrio de todo o sistema”. 

Gatilho 

Enquanto finaliza um documento que será enviado ainda nesta quinta-feira (10) à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e também da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Estado (Fecam-RS), André Costa, afirma que a notícia é recebida não com “surpresa”, mas com a sensação de “inércia”. 

No texto que elabora, ele cobra a atualização do piso mínimo do frete rodoviário. Instituída em 2018, após a greve geral dos caminhoneiros, a Lei 13.713, juntamente com a Resolução 5.867 de 2020, estabelece dois tipos de atualização, a sazonal, em janeiro e julho, e outra que prevê o repasse imediato toda vez que a remarcação de preços do diesel ultrapasse os 10%.  

Com o disparo do gatilho evidenciado, não apenas no reajuste (24,93%) desta quarta-feira (10), mas também pelos 8% concedidos no dia 11 de janeiro, o dirigente lembra que a lei é válida, ainda que sua constitucionalidade esteja em análise no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse caso, afirma, cabe à ANTT reavaliar os custos do quilometro rodado, com base nos novos valores praticados nos postos de combustíveis.   

 – Como tivemos essa elevação em janeiro, já teria que atualizar e, agora, não pode, de maneira nenhuma, deixar de conceder. O que isso provoca no preço médio do combustível impacto o futuro, porque os cálculos de ICMS são feitos a partir do preço médio da bomba, mas já chegam aos postos com a incidência do tributo. Então, o preço praticado hoje é catastrófico, principalmente para os autônomos – argumenta.  

André Costa está à frente da confederação que representa 430 mil veículos autônomos cadastrados junto à ANTT em federações de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e dos Estados do Norte. Apenas no Rio Grande do Sul, são 148 mil caminhoneiros autônomos filiados à Fecam-RS. Essas entidades deverão aprofundar a discussão sobre o assunto no início da próxima semana, com o objetivo de emitir uma nota sobre o posicionamento e a cobrança de medidas futuras.  

– É um ano delicado, pelas incertezas políticas e pela quebra da safra que já é estimada entre 40% e 60% em grãos como milho, soja e trigo. Esse aumento tem um impacto devastador. Não me surpreenderia se chegássemos na metade de 2022 com a gasolina acima de R$ 10 e diesel perto dos R$ 8 – pontua.  

Fonte: GZH 

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